quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Bem-vindo ao Brasil

Estou no melhor sitio que alguma vez poderia imaginar para acabar uma viagem: Floripa.

Sai de Buenos Aires, com o Vasco Martins e o Ribas, na segunda-feira à tarde para 28 horas de autocarro até Florianópolis. Senti a chegada ao Brasil ainda no autocarro em Buenos Aires. A companhia que nos trouxe até Floripa é uma companhia brasileira e portanto os motoristas são todos brasileiros. Óbvio.

Arrumei as minhas coisas, sentei-me no meu lugar, puxei a cadeira para trás, e comecei a ouvir as explicações de um homem baixo, gordo e sobretudo bem disposto. Foi ai que senti mesmo que estava a voltar para o Brasil. Há uma enorme diferença do resto da América Latina para o Brasil. Os brasileiros são um povo bem disposto por natureza, um povo prestável e sobretudo muitissimo informal. As instruções que deviam ter sido dadas como uma formalidade, foram dadas com piadas pelo meio, enquanto alguns passageiros eram gozados pelo tal motorista. Foi o inicio do regresso ao Brasil.

Mas ainda houve mais. Ás duas da manhã parámos na fronteira entre a Argentina e o Brasil. Quando me dirigo à casa de banho está um policia a falar com uma pessoa... aflita e com falta de papel higenico.

- Cara não arranja ai papel por favor, é uma emergencia!! - diz um brasileiro
- Pô cara deu dor de barriga agora e não tem papel higenico?! - pergunta o policia enquanto se ri
- É mesmo!! Como é que eu faço?! Não arranja ai nada?
- Sem problema, pega ai estes papeis. Precisa de mais?

Os papeis eram, nada mais nada menos, que os papeis da imigração, aqueles papeis que temos que preencher quando vamos para um país novo. Só no Brasil.

Acabámos por chegar a Floripa as dez da noite e fomos directos para a terra mais próxima da praia de Jurere Internacional, Canasvieiras. Infelizmente, Canasvieiras estava cheio e mesmo depois de vermos cerca de vinte hostels, não conseguimos nada. Acabámos por apanhar um taxi para a Lagoa. O taxista falava igual ao Scolari e não acreditava que transportava duas pessoas chamadas Vasco. Foi o maior porreiro de sempre. Prometeu-nos que arranjava hostel, e arranjou. Alem do mais, desligou o taximetro quando chegamos a Barra da Lagoa.

Floripa é INACREDITAVEL. Mais tarde conto mais... Adoro o Brasil!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Bons Ares

A viagem acabou. Acabou mesmo. A chegada a Buenos Aires fez com que eu me sentisse cada vez mais perto de casa, cada vez mais perto do Rio de Janeiro.

Está um calor de morte em Buenos Aires. As ruas estão vazias; ou cheias de brasileiros a passearem com dez sacos em cada mão. Dentro das poucas pessoas que sempre dão algum movimento à capital argentina, estão centenas de participantes do Dakar. Entre eles, o nosso Helder Rodrigues com o qual estivemos e que estava visivelmente satisfeito com o seu quinto lugar. O Dakar foi bastante sentido cá mas fiquei com a ideia de que as pessoas não sabiam que o rally chama-se Dakar porque este é o nome da capital do Senegal...

A nossa epopeia até Buenos Aires começou em Bariloche. O objectivo foi cumprido. Saimos de Bariloche, fomos até Ushuaia, passamos por Torres del Paine e depois de ver o Perito Moreno em El Calafate começámos mais de trinta horas rumo a Buenos Aires. Foi dificil e cansativo fazer mais de seis mil km em uma semana, mas valeu a pena.

Torres del Paine estava feio, nublado e sobretudo com uma ventania muito desgradavel. Por todo este conjunto de factores, nao gostei de Torres del Paine. Passámos por lá num tiro e seguimos rumo a El Calafate. O problema foi que não se conseguia andar pelo Parque de Torres del Paine devido ao vento. Cada passo que dava em frente, tinha que fazer o dobro do esforço normal, e ainda era empurrado para o lado. Talvez o mais engraçado de Torres del Paine tenha sido a noite em Puerto Natales. Foi o pior Hostel em que tivemos a viagem toda mas adorámos. O Hostel tinha um dormitorio para 12 pessoas, conosco dormia um casal de suiços que ficava 25 minutos a lavar os dentes, e era gerido por dois homens que estavam constantemente a gozar conosco. Primeiro conselho que nos deram os donos: durmam em sacos de cama. Acabámos por fazer mais uma parrillada no hostel e na manhã seguinte fomos brindados com um magnifico pequeno almoço, depois de ter recebido uma t shirt que tinha posto para lavar que foi branca e voltou azul.

"Siga para El Calafate, Torres del Paine está visto"

O Perito Moreno é impressionante. Um enorme bloco de gelo que caminha para cima de um lago e que varia as suas cores entre o branco e o azul. É impressionante. O glaciar está estável, mas como bate na terra, estão sempre a cair uns blocos de gelo. O barulho da queda é ensurcedor mas espectacular. Entrou directamente para os highlights da viagem. Restavam-nos apenas 30 e poucas horas de carro até Buenos Aires.

A capital argentina continua igual a si mesma. Uma cidade europeia, com gente civilizada, e sobretudo com muita classe. Pena estar vazia e quase todas as discotecas tarem fechadas. Esta vinda serviu me para descansar e aproveitar para ver a cidade com um bocado menos de movimento. Adoro Buenos Aires.

Agora estou a escrever isto enquanto assisto a uma mesa de póquer na televisão. Não via isto há anos, nem jogo com amigos praticamente desde que sai de Portugal (tirando umas brincadeiras no Rio de Janeiro!!). Tudo isto faz-me sentir cada vez mais perto de casa. Decidimos cortar em Punta del Este. Punta é muito caro, a começar pelo barco e autocarro que nos levam até lá. Mas a razão principal de cortar Punta não foi essa. Estamos perto de Florianopolis e é para lá que queremos ir. Amanhã espero chegar ao Terminal e conseguir encontrar um autocarro que me leve até lá para passar uma semana no paraiso brasileiro. É o regresso a casa, o regresso ao Brasil.

Não me apetece voltar, mas, confesso que já tenho muitas saudades de ouvir aquele sotaque cantado, ir para a praia todos os dias, beber "cervejas geládas", enfim... estar na boa!

Isto está a acabar... E ainda ontem estava no aeroporto a ouvir a chamada para o Rio de Janeiro.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Fim do mundo

Quando disse ao meu pai que ia até ao fim do mundo ele disse-me: "vocês já estiveram tantas vezes no fim do mundo, que já nao vejo interesse em irem mais uma vez..."

Desta vez cheguei mesmo á ponta do mundo. Ushuaia, Tierra del Fuego, Argentina. Depois disto, só mesmo a Antarctica. Em todas as ruas, esquinas, barcos, lojas, etc, está escrito "fin del mundo". Até carimbaram o meu passaporte com 4 carimbos, a fazerem lembrar os carimbos da expo 98, para ficar com o registo que estive no fim do mundo!

Aqui, nunca fica noite. Temos sol no alto até as 11h, 11h30 e depois fica uma especie de fim de tarde até ao sol voltar a aparecer em forca as 4 da manha.

Estou a 1000km do centro do polo sul, a 15 mil de Madrid, a 17 mil do Alaska, e a 3078 de Buenos Aires. O nosso Opel Zafira tem-se aguentado. E nós tambem. Vamos comecar a subir em breve para Torres del Paine e para El Calafate. Acabámos por mudar os planos de ir de aviao devido ao preco!

Depois de termos passado pelo estreito de Fernao Magalhaes, ilustre que empresta o nome a uma da principais avenidas de ushuaia, vamos agora andar de barco para outro estreito, o Beagle. Vai ser a vez que vou estar mais a sul em toda a minha vida, isto se nunca chegar a ir a Antarctica.

Sinto-me no fim do mundo. Se calhar, é porque desta vez, estou mesmo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A 20 dias do fim

Aproveitando o facto de ter internet neste hostel, e de estar à espera que o churrasco fique pronto, decidi fazer aqui uma série de mapas para vos mostrar o que de facto já fizemos e o que ainda falta fazer...
A encarnado, os sitios que parámos ou que vamos parar.
A verde, o que fizemos de autocarro.
A preto, os aviões que apanhámos e o que ainda vamos apanhar (Ushuaia - Montevideo)
A azul, o que ainda vamos fazer de autocarro
A amarelo, o sitio onde estou agora, Pucón

Equador
Quito, Guayaquil e Montañita
Peru
Mancora, Trujillo, Lima, Huacachina, Nazca, Cuzco, Machu Pichu, Puno


Bolivia
Copacabana, La Paz, Potosi, Uyuni, Colchani, Laguna Colorada

Chile
San Pedro de Atacama, Calama, Santiago, Viña del Mar, Reñaca e Pucon. Faltam ainda Punta Arenas e Torres del Paine.
Os melhores sitios onde estivemos foram sem dúvida Huacachina, Machu Pichu e Uyuni. A melhor capital foi Santiago enquanto que o melhor sitio de praia até agora foi Reñaca...
Ainda falta chegar à Patagonia e terminar a viagem nas praias do Uruguay (Punta del Est e Punta del Diablo) e do Brasil em Floripa.
Nos ultimos dias estivemos em Viña del Mar, mais precisamente em Reñaca. Para nossa grande surpresa, Reñaca, estava cheio de pessoas da nossa idade. Viemos a descobrir, que nas duas primeiras semanas de Janeiro, todas as pessoas de Mendoza passam férias em Reñaca... Mendoza é uma cidade argentina... E mais não digo!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

De La Paz a Santiago

Estou vivo e escrevo passados alguns dias de Viña del Mar, perto de Santiago do Chile.
O dia depois da estrada da morte foi aproveitado para visitar a confusa cidade de La Paz. Num dia de chuviscos, saimos do hostel e pusemo-nos a caminhar pela cidade. A cidade é de ultimo mundo. A Bolivia é o país mais pobre da America do Sul, mais pobre que Suriname e que as Guianas. A confusão do transito, de pessoas, de vendedores ambulantes é impressionante. No entanto, não quer isso dizer que não tenha uma grande avenida, mais ou menos bem conservada, e ainda uma praça de primeiro mundo, obviamente, onde vive o Señor Evo Morales.
Depois de um almoço por 4 euros no Hotel Ritz de La Paz, alugamos uma carrinha, por tostões, com chauffer para darmos uma volta pela cidade. Ao fim do dia partimos num autocarro com camas 180º para Potosi. Isto sim é backpacking!

Potosi é a tipica cidade colonial boliviana. Curiosamente, talvez pelas pequenas praças, ruas estreitas, subidas e descidas, e ainda os pequenos quiosques que se viam nas ruas, fez me lembrar muito Portalegre. Fiquei apenas uma manhã em Potosi pois o unico interesse era visitar as minas de Potosi, coisa que a mim nao me atraiu. Segui directo para Uyuni.

Uyuni parece uma vila fantasma. Não sei explicar porquê. A vila está totalmente isolada do resto da Bolivia, a 6 horas de autocarro de Potosi e sempre por uma estrada de terra. A vila parece exisitr apenas e só pelo Salar de Uyuni. A unica "atraccao" extra da vila é um cemiterio de comboios... Mal chegamos a Uyuni dirigimo-nos a agencia na qual tinhamos comprado um tour para ir de jeep desde Uyuni até San Pedro de Atacama. A agencia revelou-se o primeiro problema desta viagem. O problema começou logo mal chegamos a Uyuni e a agencia era a unica que estava fechada ás 4 da tarde. Quando me dirijo de mochila ás costas em busca de um Hostel, pára um carro ao meu lado com uma senhora aos gritos: "SandraTravels!! SandraTravels!!", á qual eu respondo: "Si si somos nosotros!". Depois de entregarmos os vouchers e acertarmos os ultimos promenores ficamos a saber que no dia seguinte ás 10 da manhã teriamos de estar á porta da agencia. Sem problema.

10 da manhã do dia seguinte... Agencia fechada com dois bancos à porta. Os bancos devem estar lá mesmo para quem espera da tal Sandra que apenas nos apareceu ás 11h15. Estivemos horas a discutir com as donas da agencia. Tudo estava mal. Chegam-nos dois dias atrasadas, depois dizem-nos que não podemos atravessar o Salar e que vamos dormir noutro sitio que não era previsto quando todas as agencias iam atravessar o Salar, ainda nos dão um carro que as janelas não abrem e o chauffer diz que só vai ser nosso chauffer aquele dia, e por fim dizem que se queremos o dinheiro de volta temos que ir a La Paz buscá-lo. Bem, não estávamos para perder outro dia em Uyuni a arranjar outra agencia e decidimos ir com aquela agencia.
Qualquer que fosse a agencia não há palavras para o que é o Uyuni. Um enorme deserto de sal sem fim. Tudo branco, um espectaculo. Melhor que isso, estava com bastante água no chão o que permitia reflectir todo o céu e nuvens no chão fazendo com que ficasse um verdadeiro "céu na terra". Não há palavras para descrever o Salar de Uyuni. Final do dia, fomos dormir ao tal sitio alternativo chamado Colchani. Colchani é uma terrinha, com não mais que cem pessoas e onde água potável e luz electrica não existem. Acabamos por jantar com velas num ambiente totalmente pré-historico. Felizmente a dona da casa onde dormimos foi sempre impecável conosco e preparou-nos um jantar e pequeno almoço óptimos. Por fim, deitámo-nos cedo pois ás 7 da manhã tinhamos o novo chauffer com um novo jeep á porta.
7, 8, 9 da manhã... ninguem aparece. Estava decidido, iamos mudar de agencia. No meio do nada, sem telefones, sem internets, e sem luz, só havia uma maneira de resolver este problema, arranjar boleia pa Uyuni e "partir" a SandraTravels ao meio. Foi talvez a única coisa positiva da agencia, obrigou-me a mim, e ao meu amigo Bernardo, a apanhar boleia num jeep com 5 argentinas incriveis... Mais uma vez, as argentinas eram provenientes de Rosário (Deve ser a cidade com as miudas mais giras do mundo). Apesar de tudo, o chauffer das argentinas não nos queria levar pois dizia que não queria problemas com a Sandra. Acabamos por perceber que a Sandra no meio das agencias era tudo uma máfia e pessoas perigosas. Depois de 30 minutos de uma optima boleia, chegamos a agencia. Gritos e mais gritos acabaram por não levar a nada. Entretanto a dona da agencia tinha mandado o irmão ir buscar o resto do grupo a Colchani. Quando voltaram, já estava um novo chauffer com novo jeep. Desta vez o chauffer era diferente e mais bem disposto, mas o carro era igualmente mau. Tão mau, que foram precisos poucos quilometros para nos ter saltado uma roda do jeep...

Depois de um dia inteiro metidos num jeep e a passar por paisagens incriveis, chegamos a uma casa, no meio do deserto e sem mesmo nada a volta, a não ser a candidata a maravilha natural do mundo Laguna Colorada, para passarmos o fim de ano. Não estávamos á espera que o fim de ano fosse tão animado como foi. Acabamos por ser um grupo de para ai trinta pessoas a fazer a festa, e mesmo sem musica conseguimos ter um bom fim de ano. O pior foi sem duvida acordar no dia seguinte ás 4 da manhã pa seguir caminho até Atacama.

O caminho até ao Atacama é sempre por deserto e a passar ao lado de lagoas perdidas. Acabámos por passar um dia onde as vistas únicas acabaram por fazer render qualquer tostão que tinhámos pago á SandraTravels. Chegámos ao Atacama debaixo de mais de trinta graus e cansados dos ultimos dias.

A primeira coisa que fizemos mal chegamos ao Atacama foi tentar encontrar uma boa agencia que nos fizesse os tours todos necessários. Os elevados preços para turistias não nos deixaram ir com uma agencia e então encontrámos um chauffer. Desta vez dava pelo nome de Odon e não era nem muito simpatico nem muito falador mas lá nos fez os serviços pelo Atacama durante três dias e a preços bem mais acessiveis que as agencias. As fotografias explicam o que é um deserto arido e de pedra!


Depois de uma estadia de três dias no Atacama, seguimos de avião para a civilização, Santiago.

Santiago é provavelmente a melhor cidade da América do Sul. Logo no aeroporto percebe-se que chegámos a um país desenvolvido. Tudo funciona bem. Estradas enormes e bem sinalizadas, prédios modernos, pessoas com bom aspecto, ruas e praças limpas, é uma capital europeia. Fiquei muito bem impressionado com Santiago. Adorei mesmo.

Na noite em que chegámos comprámos uma garrafa de pisco ainda no aeroporto, deixámos as malas no Hostel e seguimos directos para o Sala Murano, discoteca que os meus amigos que estudaram em Santiago recomendaram. Não saiamos à noite desde Quito, e por isso exagerámos em alguns aspectos... Inolvidável Sala Murano!

E agora, por fim, estamos a poucos quilometros de Santiago, em Vinã del Mar. Estamos cá a pernoitar algumas noites pois isto está em plenas férias de verão e as praias estão totalmente cheias de gente. As praias estão com tanta gente que hoje o Patricio e o Bernardo foram roubados em plena praia de Reñaca sem que ninguem desse por isso. Telemoveis, carteiras, algum dinheiro e ainda os passaportes desapareceram. Um verdadeiro "cabrão" levou-lhes tudo isto enquanto todos estávamos distraidos com a multidão em nosso redor. Amanhã de manhã estão de partida cedo para a embaixada portuguesa em Santiago...